sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Minas em trabalho

Estou fechada num quarto de hotel de paredes amarelas, com janela virada para uma academia em que pernas ofegantes acompanham a aula de spinning, motivadas pelos gritos de um monitor histérico, e para uma escola de dança em que corpos elegantes deslizam ao som de uma música que se confunde com a música elétrica da academia.
Levanto-me mil vezes da cama, pouso o computador sobreaquecido que me queima as coxas, espreguiço-me, vou à janela ver as pernas ofegantes e os corpos elegantes, espreguiço-me outra vez. E outra. Acho que não existe nenhum músculo das minhas costas que não me doa. Para o lado direito já nem consigo virar o pescoço. O meu cansaço mental, quando não é compensado com exercício físico, se transforma num grande stress e numa hiperatividade, contida de alguma forma, mas insuportável de aguentar.
Estou em Uberlândia, estado de Minas Gerais, trabalhando desde quarta-feira, e têm sido uns dias muito intensos. Acordar às 5h, tomar o café da manhã, pegar taxi para Escolas, uma em zona rural, fantástica, a paisagem bucólica adornou a viagem de meia hora, fazer grupos focais com alunos(as), estar atenta a todos os pormenores, sair derreada pelo ritmo frenético, e com cabeça explodindo de informações, explicar mil vezes de onde sou a todos, que não, não sou de França (não sei porque insistem), falar com as professoras, as diretoras, com todo o mundo que se mostra solícito e simpático, processar rapidamente toda a informação, registrar ao máximo, explicar o motivo da nossa visita, analisar, observar, ser observada, aguentar horas infindáveis sem comer, por fim almoçar, arroz com feijão, mas não é preto como no Rio, ao jantar um verdadeiro pão de Minas tamanho gigante, tarde e noite fechada no quarto do hotel de paredes amarelas, escrevendo relatórios, respondendo emails, fazendo telefonemas. E indo à janela ver as pernas ofegantes e os corpos elegantes. Preparar a atividade do dia seguinte e não dormir antes das 0h30.
Apesar de tudo, do cansaço mental e da ausência de exercício físico que me deixa dorida e nervosa, é muito bom, mesmo, viajar em trabalho. Por sair da rotina, por fazer atividades diferentes, por nos surpreendermos a nós próprios, por aprender muito, por conhecer outras pessoas, outras realidades, e, aqui, outros “Brasius”. Porque não deixa de ser viajar.

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