sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Visita inesperada

Depois de um longo dia de trabalho e stresses com a casa, eis que à 1 da manhã recebo uma visita inesperada. Ouço ruídos, passos, um sininho. Espero. Levanto-me e desço à cozinha. Vejo um gato enorme, amarelo, assustadíssimo quando me vê. Dá passos para a frente. Saltos para trás. Não sabe o que fazer. Chamo por ele, mas aquele cabedal todo é só fogo de vista. Está assustado mesmo. Depois de uns segundos, certamente intermináveis para ele, ganha coragem e passa por mim pelas escadas numa corrida desenfreada e foge para a laje. Desço para ver se está tudo bem e, do quarto da outra menina que vive comigo, mas que não está em casa, sai outro gato preto, pequenino, com sua coleira de sininho, menos assustado e mais atrevido. Olha para mim. Chamo por ele. Fica num cantinho. Olhar fixo em mim. Olhar terno. Não resisto e encho um prato de leite. Espero. Ganha coragem e vai beber o leite. Regresso ao meu quarto, e pouco depois o atrevidinho abre a porta, dá uma volta curioso, aproxima-se, pede festinhas e fica aqui ao meu lado. Sim, aqui mesmo, deitadinho, fazendo a toillet e preparando-se para dormir. E eu, claro, até já esqueci o quão cansada estava....

A saga da casa

Um dia a internet não funciona. Noutro cortam a luz porque os antigos inquilinos não pagaram e fico quase 48 horas sem luz, com as consequências óbvias. Há mais de uma semana que a àgua quente não funciona, nos últimos dias as temperaturas desceram e, enfim, cada vez que tomo banho, é um balde de água fria.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Despertar no Leme

Já voltei às corridinhas matinais na praia... :)
E não há nada melhor que começar o dia assim!! Acordar com uma luz alaranjada refletindo por detrás do Forte do Leme, ouvir o chilrear exótico de diferentes pássaros, dispensar de despertador, ver os barcos deslizarem nas águas calmas do Oceano, descer energicamente o morro, caminhar um pouco no calçadão repleto de corpos malhando, correr na areia, sentir a brisa do mar, as carícias do sol e maravilhar-me, outra vez, sempre, com a beleza desta cidade.
Depois, um duche fresco, um café da manhã nutritivo, e pronta para o trabalho!
Já ganhei o dia, e ainda só agora começou.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

4 dias de solidariedade

Após quatro dias de cama (i.e, de colchão), e sem água na favela, hoje finalmente tudo pareceu voltar à normalidade. Ainda não me sinto com a energia habitual (ao descer o morro sentia-me mais bem uma tartaruga, tal era a lentidão dos meus passos...), mas pouco a pouco estou recuperando. 
Estive de molho com uma inflamação no estômago e passei um bocado mal. Mas destes dias guardarei comigo todos os gestos e atitudes daqueles que me cuidaram e fizeram sentir que não estou sozinha por estes lados.
O vizinho do lado que me trouxe paracetamol na noite em que estava passando pior. O senhorio que me fez um chá de boldo e me levou ao posto médico da comunidade no outro dia de manhã. O agente comunitário de saúde, a enfermeira e o médico que me atenderam muitíssimo bem. A Elisa que me trouxe um vaso de flores, me preparou arroz, me lembrou de tomar a medicação, me impediu de fazer esforços e mandou mensagens quando não estava ao meu lado. O Danilo que me ofereceu um ramo de margaridas, me preparou o café da manhã, fez mais arroz, me encheu a geladeira com fruta, trouxe-me desenhos e livros. A vizinha espanhola que me visitou e me tentou animar. A vizinha de baixo que me deixou tomar banho em sua casa quando a água chegou à caixa dela (à minha caixa só chegou 1 dia depois) e insistiu para contar com ela para o que fosse preciso. A Bia que a toda a hora me mandou mensagens a desejar as melhoras.
Não, realmente não estou sozinha por estes lados, e isso é reconfortante.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Um colchão e vista para o mar


Nos últimos 5 dias, o único que tenho tido na minha casa nova é um colchão emprestado pela vizinha e esta maravilhosa vista para o mar...

Ah, e demasiado stress. Com o pedreiro que diz que pinta as paredes em dois dias, já se passou mais de uma semana e está tudo igual. Stress com o responsável com quem ia ao notário assinar contrato de arrendamento na sexta-feira passada e até hoje ainda não apareceu. Stress com o cara da instalação da internet que me fez estar em casa às 16h30 de segunda-feira e apareceu às 22h do dia seguinte. 

A casa está na Babilônia, uma favela pacificada no Leme, e não está mobilada. Inicialmente pensei que improvisar e reciclar uns móveis seria o meu maior desafio nesta casa. E subir o morro ingreme todos os dias...
Mas não... está a ser bem mais difícil do que isso. Telefonemas e mais telefonemas, horários incumpridos, falsas promessas, contratempos, lentidão... muita lentidão.

No entanto, quando acordo e vejo esta paisagem... quando adormeço a ouvir as ondas do mar... quase me esqueço que nesta casa ainda só tenho... um colchão emprestado pela vizinha.