De partida para 3 dias de praia, descanso e excelente companhia...
domingo, 21 de abril de 2013
sábado, 13 de abril de 2013
1º aniversário no Rio
Hoje despertei feliz, com um intenso céu azul e
um sol quente entrando pela janela do meu quarto, o mesmo céu e o mesmo sol que me envolveram quando aterrei há um
ano atrás, às 10h da manhã, no Santos Dumont. Nadei num mar cristalino e fui
trabalhar, relembrando os primeiros passos que dei nesta cidade, as primeiras
imagens que tive, as primeiras conversas que troquei (com o taxista, com a
Neuza...).
Mas nunca poderia imaginar que o dia me
reservaria presente tão especial. Senti reconhecimento. E renovação. Passado e
futuro. Senti que todos os esforços foram valorizados, de uma forma incrível
mesmo, e senti que começa outra fase... que tenho muito por fazer, por aprender
e muito por viver nesta cidade. Foi-me lançado um grande desafio. Grande mesmo. Só espero
estar à altura. E outro ano começa a contar...
PS: E esta foi a música da noite...
Especial demais assistir ao show da Rachel (Jesuton) no dia de hoje... Ela
também chegou ao Rio há um ano atrás, começou a cantar nas ruas e o seu talento
foi descoberto... pudera, com esta voz!... Vive com a Marta e é uma pessoa
doce, linda, maravilhosa. E a sua voz foi a minha trilha sonora do dia 12 de Abril de 2013.
quinta-feira, 11 de abril de 2013
E tudo começou há um ano atrás
Antes de fechar a porta, caminhei
lentamente por toda a casa, repousando lentamente os olhos em cada recanto, em
cada objeto, em cada pedaço daquele que era ainda o nosso lar. O sofá laranja
onde nos espreguiçávamos vendo as notícias depois do almoço, o Cuéntame como pasó
nas noites de quinta, os filmes alugados durante os fins de semana, depois de
uma longa caminhada na Serra de Guadarrama ou da Pedriza. A mesa do meio, com
alguns livros e revistas distraidamente pousadas e os vouchers oferecidos da Vida é Bela,
esperando o dia que não chegou para serem desfrutados. O móvel debaixo da
televisão, com o passpartout
cheio de sorrisos e os livros grandes de História Mundial e de Geografia. As
colunas discretamente escondidas de onde saía a música que embalava os serões
de leitura e as festas com os amigos. E os cestos debaixo do móvel, guardando
ordenadamente as revistas yoga journal, sport
life e oxigeno.
As estantes pretas, coloridas pelos livros sobre Menores Infratores,
Psicopatas, Mediação de Conflitos, Direito Penal, Gestão de Empresas,
Marketing. O globo que tantas vezes girava, viajando pelo mundo com o olhar e a
imaginação. O trono
do Grony junto à janela, onde ele era feliz durante os fugazes minutos em que o
sol entrava e lhe aquecia o pelo preto e branco. Lá fora na varanda, as
protagonistas de muitos quilômetros de aventuras, suores e felicidade. Ainda na
sala, a geladeira coberta de ímãs de viagens. Dentro, iogurtes suficientes para
uma família numerosa, queijo Garcia Vaquero, jamón serrano e
chocolate preto com 80% de cacau. Entre tantos outros quantos básicos. Os
frascos de vidro alinhados no móvel e coloridos por muesly, sésamo, avelãs,
castanhas de caju, nozes, platanitos, korn flakes. Os
puffs castanho e laranja, que o Grony ia alternando nas suas longas sestas. As
viagens por Espanha, Peru, Argentina, Venezuela, França,... emolduradas nas
paredes.
A cozinha minúscula onde cozinhávamos a
pasta de legumes com camarão, a dorada a la sal,
e onde batíamos bolos nos dias de festa. Ai, esse cheirinho de bolo no forno
que me transmite uma sensação indescritível de lar. Se houvesse uma fragrância
que se chamasse lar, teria certamente o cheiro a bolo no forno. No armário
estreito do corredor, os tupperwares arrumados por tamanho, a batedeira, o
aspirador e os artigos de limpeza. A casa de banho com as fotos de momentos
felizes na praia, a cortina de patinhos amarelos a condizer com o tapete,
também amarelo, a maquilhagem, os cremes e emulsões organizados em cestos em cima
da mesinha e debaixo da pia.
O quarto do Grony
sempre mais desarrumado do que eu desejaria, os sapatos, os dossiers, a
impressora, as mochilas, a tenda, os sacos cama, os casacos de montanha, os
patins. O nosso quarto com a colcha verde e cinza, as almofadas, o quadro dos
músicos comprado em Cuzco, as fotos de momentos plenos do verão na Croácia e na
Bósnia, os tapetes bege, os imensos colares pendurados na parede, o Ratatoille de
peluche oferecido quando fui operada ao pé. A foto a preto e branco dos noivos
passeando na calçada. As mini-estantes de cada lado e as mesinhas de cabeceira
com mais livros e a revista Sábado da semana
anterior. A roupa pendurada no armário por ordem de cores, da mais escura à
mais clara. Os casacos, as calças, as camisas, os lenços, os cachecóis e as
camisolas.
Coloquei a mochila às costas, essa mochila
verde e grande que enchi de uns quantos tops frescos e t-shirts, cinco calções,
duas saias, alguns livros, sandálias, dois casacos, dois jeans, a máquina
fotográfica, o portátil, vários cadernos de viagem, muitas canetas, o celular,
um estojo com medicamentos, um nécessaire
recheado. Essa mochila verde e grande que enchi de entusiasmo e de sonhos por
realizar, que agora repousa no meu quarto em frente ao mar.
E mesmo antes de fechar a porta, vi as
conchas e a estrela do mar. Vi as nossas mãos morenas nas pedras brancas da
Sardenha. Essa fotografia que nos dava as boas-vindas sempre que entrávamos em
casa. Fechei a porta. E, sem saber, fechei uma fase da minha vida.
Parti do 3ºA da calle Alcantara, número
64, com uma passagem aérea de ida e volta para o dia 29 de Junho. Eu sabia que
três meses não me bastariam para fazer tudo o que desejava fazer no Rio de
Janeiro. Tínhamos um plano. Procurar emprego e conseguir ficar no Rio, sonho
que brotou na primeira vez que tínhamos vindo cá, em 2010, e que fui regando ao
longo de muitos meses de busca e persistência. E que foi realizado no dia 6 de
julho de 2012 (casualmente, o dia em que a nossa história começara, lá no ano
2000...), quando comecei a trabalhar oficialmente no ISER. Consegui ficar. O
plano se concretizou. Agora só falta a segunda parte do plano se concretizar...
Era dia 11 de Abril de 2012. Foi há um ano
atrás. Um amigo perguntou-me se passou rápido ou devagar. Respondi: intenso. Insistiu:
rápido ou devagar?
Acho que das duas formas. Rápido, porque parti despedindo-me de todos e de tudo
por 3 meses e, entretanto, sem quase me dar conta, apesar das saudades serem
muitas, passou-se um ano. E devagar, porque as rotinas da vida que tinha em
Madrid estão cada vez mais longínquas... adquiriram outras tonalidades, outros
sujeitos, outros objetos, outros significados. Intenso. Acho que
é como consigo descrever melhor o tempo que passou através deste ano. Entre
cada despertar e deitar de cada um desses 365 dias, couberam muitas imagens,
muitas conversas, muitos sorrisos, poucas lágrimas, muitos sentimentos, mais
pensamentos, imensas inquietudes, emoções. Couberam muitas pessoas. Pessoas com
quem me cruzei fugazmente, com quem conversei na rua, na praia, no ônibus, na
padaria, na van, no supermercado, que provavelmente nunca mais voltarei a ver –
ou sim, porque aqui acontecem tantas (mas tantas) casualidades, que isso já
chegou a acontecer várias vezes – mas que deram significado e palavras a
momentos porventura aborrecidos ou banais. Pessoas com quem vivi momentos muito
felizes e que partiram, sem saber se o destino nos vai dar a oportunidade de
nos cruzarmos novamente. Acredito sempre que sim. Pessoas com quem gostaria de
ter vivido mais momentos. Mare, Elisa, José, Claire. Pessoas que felizmente
ficaram, que conheci logo no início, em Parada de Lucas e no curso que fiz
sobre Favelas Cariocas, e depois na Babilônia, no trabalho, na praia, em
festas, em encontros, em casa de amigos, em viagens, nos treinos, e que
continuam dando cor e alegria aos meus dias.
Entre cada despertar e deitar de cada um
desses dias coube também muita, muita música, que parece que tenho vivido
dentro de um autêntico musical. Ou melhor, dentro de uma roda de samba e de
choro. É como se para cada momento houvesse um ritmo de fundo, um poema, uma
frase do Chico, do Gil, do Caetano, da Marisa, do Arlindo, do Martinho, do
Jobim. Uma melodia do Pixinguinha, da Chiquinha ou do Nazareth.
E coube aprendizagem. E quanta aprendizagem!...
Quantos mitos quebrados, fronteiras ultrapassadas, dúvidas esclarecidas...
Porém, nem todos os dias foram fáceis,
houve também muitos em que me sentia cansada, exausta até, do trabalho ou dos
imprevistos que sempre surgem nesta cidade. O jeitinho malandro do
carioca chateia, enerva. A falta de pontualidade e compromisso incomodam. Os
transportes públicos insuficientes e imprudentes às vezes fazem soltar
gargalhadas (pelo surreal da situação), mas na maioria das vezes irritam e
atrasam. O caos e desrespeito para com o peão enfurecem-me. A vida na favela
traz dias sem água, outros sem luz, a internet que não funciona, o senhorio que
promete e não cumpre e nos tenta enganar, o vizinho que ouve funk ou canções
evangélicas no volume máximo a horas sempre impróprias, o correio que não chega
a casa, o som de alguns disparos, os insetos, a chuva que cai pelo teto do meu quarto, os ruídos que não
me deixam dormir. A insegurança que me impede voltar de bicicleta do trabalho
ou ir a pé a determinados lugares e a certas horas. Aquela sensação de que
qualquer coisa (má) pode acontecer a qualquer instante e que tudo demora, é
difícil, burocrático, lento. E as saudades. De todos e dele em
particular. Devastadoras, que vão corroendo o coração e deixam um vazio enorme,
a sensação de que falta sempre algo – ou melhor, alguém – para completar a
pintura dos momentos felizes.
Houve, pois, dias em que tudo pareceu mais
difícil, cansativo, esgotante. Mas a verdade é que, mesmo nesses dias, houve
alguma pessoa, alguma música ou alguma imagem que me fez sorrir e acreditar
que, amanhã, será diferente. Também o reconhecimento de que estou vivendo a
realização de um sonho, e a gratidão que sinto por estar conquistando tudo o
que desejei, faz com que os aspetos menos positivos da vivência aqui se diluam rapidamente
em qualquer pormenor.
Desfolho o caderno que o Henrique e a Rita
me ofereceram no nosso café de despedida em Madrid e quase estremeço ao ler as
palavras que escrevi nas primeiras páginas, dentro daquele avião da TAM que me
trouxe até estas terras de além-mar:
Sinto que embarco numa nova aventura,
desta vez do outro lado do Oceano, longe da pessoa que amo e sozinha... mas
apoiada por todos e cheia de ilusões, expectativas, emoções! Tenho a certeza
que vai ser uma experiência única e que me transformará como pessoa e
profissional!(...)
(...) 23:00 DESCOLAGEM! Ao
descolar vieram-me algumas lágrimas aos olhos, pensando que vou deixar tão
longe a pessoa que mais amo!... Estou um pouco estranha, meia anestesiada,
incrédula ainda por isto me estar a acontecer! Dói-me a cabeça e estou cansada,
mas vou tentar ver um filme, relaxar, e desfrutar da viagem. Estou muito feliz
pela reviravolta que a minha vida deu em menos de um mês... e pelo desafio que
tenho pela frente. Hoje, dia 11 de Abril de 2012, faz precisamente 20 meses que
eu e o Rich apanhamos o voo (à mesma hora!) para o Rio de Janeiro para
iniciarmos a nossa lua de mel fantástica. Nessa altura eu senti que queria
voltar ao Rio, que queria viver e trabalhar lá um tempo, nalgum projeto social
em favelas. E... voilá! Aqui estou eu, 20 meses depois, voando para a
realização desse sonho! Só falta o Rich encontrar lá trabalho para estarmos
juntos e felizes! (...)
10:00 Aterragem Aeroporto
Santos Dumont – Rio de Janeiro. Que emoção! Já estou aqui! A paisagem de cima,
as vistas... foram maravilhosas!
E o que mais me surpreende (ou não), são
as palavras que escrevi à noite, depois de um primeiro dia de chegada, ida ao
centro para fazer algumas gestões, horas no trânsito da Avenida Brasil e
abertura da mochila para retirar as primeiras coisas: São 0h10 e estou
exausta, mas bem e com a sensação que já estou adaptada! Não sei explicar! Aqui
na comunidade não estive muito tempo, mas parece-me agradável e tranquila e
sinto-me bem. E no Rio sinto-me em casa... não consigo mesmo explicar, mas é
mesmo assim! Adoro esta cidade e quero aproveitar para a conhecer muito bem!
(...) O balanço
desde primeiro dia que durou muito mais do que 24 horas é super positivo. Não
me sinto desiludida, não senti medo nem desconfiança... Pelo contrário, senti
que, de alguma forma, estou ligada fortemente a este lugar.
(...) Oxalá os próximos
dias sejam todos assim, repletos de imagens novas, aprendizagem, experiências
únicas. Agora vou dormir para tentar recuperar. 0:20.(...)
Só posso sentir-me feliz, muito feliz, por
este ano (bem) vivido no Rio de Janeiro. A celebração pessoal do primeiro
aniversário aqui serve-me, mais do que tudo, para parar uns instantes e
reflexionar sobre tudo o que aconteceu. E para me despedir mentalmente das
pessoas e da nossa casa em Madrid. Sei que não voltarei à casa, àquela vida que
tínhamos da qual me ausentei por 3 breves meses e que depois se transformaram
num ano e num tempo sem fim... Sei que deixei muitas pessoas para trás, muitos
momentos por viver lá também... Muitas despedidas por fazer. Muitos abraços
apertados por dar. Mas talvez tenha sido melhor assim. Menos doloroso.
Agora, passado um ano, realmente só desejo
continuar a viver dentro desta roda de samba e choro, rodeada de pessoas,
sorrisos e olhares brilhantes, aprendendo, assimilando, cantando, desfrutando.
E com o Rich. Sem ele, a pintura dos momentos felizes tem um vazio demasiado
grande...
quarta-feira, 10 de abril de 2013
João e Maria do Chico Buarque
Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você além das outras três
Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava o rock para as matinês
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você além das outras três
Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava o rock para as matinês
Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser feliz
E você era a princesa que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser feliz
E você era a princesa que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país
Não, não fuja não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião
O seu bicho preferido
Vem, me dê a mão
A gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião
O seu bicho preferido
Vem, me dê a mão
A gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido
Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?
terça-feira, 9 de abril de 2013
Vida
Outro dia, perdendo-me na livraria Cultura, no centro, deparei-me com esta frase escrita na parede e logo me identifiquei com a Virginia Woolf, sua autora: "Sono, essa deplorável redução do prazer da vida."
Precisaria de mais vidas para fazer tudo o que gostaria. Porém, tendo apenas esta e não sabendo o que nos espera amanhã, toca a vivê-la ao máximo e a saborear cada momento com intensidade...
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