sábado, 23 de março de 2013

Capitães da areia


Li o livro há vários anos atrás, e agora fiquei com vontade de o ler outra vez. E eu nem costumo gostar muito de ver os filmes que são adaptações de grandes clássicos da literatura... mas este tem algo de especial. A fotografia, com o branco das roupas e o azul intenso do mar da Baía, a trilha sonora de Carlinhos Brown, o olhar do Pedro Bala, o sorriso da Dora, os sentimentos que transmite.
E foi uma emoção ter conhecido e partilhado uma noite de Carnaval, a do bloco do Cacique de Ramos, essa noite tão inesperada e surrealista na Presidente Vargas, com a realizadora do filme. Cecília Amado. Nada mais nada menos que a neta do Jorge Amado. Uma querida!

sexta-feira, 15 de março de 2013

Será legal ser legal

Hoje entreguei ao meu advogado as declarações de trabalho com assinatura reconhecida em notário, consularizadas e traduzidas juramentadas, o contrato de trabalho, o diploma consularizado, os estatutos da entidade empregadora devidamente reconhecidos em notário, mais três declarações e dois formulários do Ministério de Trabalho preenchidos, assinados, carimbados.
Após muitos meses, muitos mails, muitas burocracias, muitas assinaturas, muitos carimbos, muito stress e algumas dores de cabeça, por fim, o meu processo de visto de trabalho vai entrar no Ministério. 
O prazo máximo de resposta são 40 dias. E esta pode ser positiva, negativa ou um talvez.
Toca a fazer figas para que em breve passe a virar gente neste país que tanto amo. Por coincidência, faz hoje um ano que comprei o voo para vir para cá. Um ano...

quinta-feira, 14 de março de 2013

Quinta-feira à noite

É certo e sabido que adoro samba. Sou uma frequentadora assídua de ótimas rodas de samba do Rio. Pedra do Sal, Santa Teresa, Ouvidor. Trauteio as letras, mexo os pezinhos, entusiasmo-me com cada música nova que conheço, com cada compositor que acrescento ao meu repertório, alegro-me quando consigo acompanhar as músicas até ao fim. Emociono-me. Sinto-me sempre muito feliz, contagiada pelo ritmo e pelos sorrisos que pairam em volta da roda. Não me canso. Até comecei a aprender a tocar pandeiro, sonhando com o dia em que participarei em alguma.
Mas são as 23 horas de quinta-feira. Cheguei a casa há pouco, depois de um dia de trabalho cheio de pendências por resolver. Nadei cedo de manhã e à noite tive mais uma aula intensa de yoga . Tão intensa que, no fim, o professor olhou para nós e disse “agora vocês já se podem considerar avançados”. Maravilha. Saio das aulas cansada, mas sempre em paz e sentindo-me cada vez mais forte.
Tudo o que agora queria era continuar desfrutando dessa paz. Tomar um duche, saborear lentamente o meu mingau de aveia com maçã e canela, deixar-me embalar na rede ao som das ondas do mar enquanto leio Rio das Flores. E adormecer tranquilamente, deixando as pupilas fecharem entre as histórias da família Flores.
Mas não. Os vizinhos resolveram montar festa na laje e os pratos do pandeiro e as batucadas ritmadas ressoam dentro da minha cabeça.  Não suporto as vozes demasiado agudas que de repente ressaltam desafinadas. As palmas. O pandeiro. Os batuques. Não... agora não... eu juro que adoro samba, que adoro esta facilidade com que se faz música e festa em qualquer lugar, esta espontaneidade, esta alegria. Mas já são as 23h40. Gostaria tanto de poder relaxar um pouco...

sexta-feira, 8 de março de 2013

Eterno aprendiz


Eu fico
Com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...
Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...
Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita...

Feliz dia da Mulher e bom fim-de-semana!!

quarta-feira, 6 de março de 2013

O caos

Hoje saí do Yoga e pensei que durante a aula tivesse viajado para Itália. Mais precisamente para Veneza. Sei lá, entre as repetições de surya namaskar e as asanas mais complicadas, com os cinco minutos finais de relaxamento e meditação, podia ter acontecido. Fartámo-nos de suar e foi uma aula bastante intensa, por isso até fiquei na dúvida se, através do yoga, tinha feito alguma viagem transatlântica quando me assomei à porta e vi que as ruas tinham sido transformadas em canais. Literalmente. O lixo flutuava pelos canais, imensas árvores caídas, algumas pessoas passavam tranquilamente com a água pelos joelhos, os carros e ônibus parados no meio das ruas, digo canais, uma multidão calma esperava por debaixo de algum toldo que tudo voltasse ao normal. Faltavam as gôndolas e por momentos pensei que deveria incluir na minha bolsa um barco insuflável. Ah, deve demorar umas duas horas até descer. Mas... como é possìvel isto acontecer sempre que chove? É que chove muito... Desculpe? Ok, até pode chover muito em pouco tempo, mas não é algo previsto em pleno verão de um país tropical? Não haverá forma de prever e reduzir o caos?

sexta-feira, 1 de março de 2013

Tamoios do Arpoador

Um conto de Zuenir Ventura sobre o Rio de Janeiro:

"Aconteceu neste verão. Convidado a escrever sobre um canto do Rio, escolhi o Arpoador, porque de lá se costuma desfrutar deslumbrantes entardeceres. Os termômetros marcavam quase 40º, com a sensação térmica beirando os 50º. Sentado nas pedras, apreciava o sol refletir com tal intensidade sobre o mar espelhado que devo ter experimentado aquela ilusão ótica que no deserto se chama miragem. A gente entra num clima onírico e acredita ver o que não existe. De repente, senti uma urgência febril de dividir aquele espetáculo mágico com alguns personagens que cantaram e encantaram o Rio. A primeira aparição foi de Millôr, que veio correndo pela areia, como sempre fazia. Passou pelo largo que agora leva o seu nome, subiu até onde eu estava e repetiu uma de suas geniais definições: “O pôr do sol é de quem olha”. Em seguida, foi a vez de Tom e Vinicius, que atravessaram o Parque Garota de Ipanema carregando o violão. Tinham acabado de acordar, após uma longa noite de boemia. Finalmente, vindo de Copacabana, chegou Oscar Niemeyer, trazendo nos olhos as curvas das mulheres e dos morros cariocas com que fez sua arquitetura.
Como não podia deixar de ser, a conversa girou em torno dessa cidade solar, sensual, exibida que nasceu para ser musa. Falou-se principalmente do narcisismo de quem desde pequena se habituou aos elogios. Era ainda uma criança quando um de seus adoradores, o primeiro governador-geral Tomé de Souza, se desmanchou: “Tudo é graça o que dela se pode dizer”. Alguém lembrou que até os religiosos lançaram sobre ela olhares profanos: “É a mais airosa e amena baía que há em todo o Brasil”, suspirou o padre Anchieta, inteiramente catequizado. Seu colega da Companhia de Jesus, o padre Fernão Cardim, sentiu o mesmo: “É coisa fermosíssima e a mais aprazível que há em todo o Brasil”.
Estimulado pela exuberância sensorial daquela tarde, resolvi corrigir Vinicius, que dizia que ser carioca é um estado de espírito. Acho que é mais. Não se trata apenas de alma, mas de corpo e alma. Ama-se a cidade com todos os sentidos, a começar pelos olhos. Olha que coisa mais linda uma garota de Ipanema a caminho do mar. Ela vai se molhar e se estender nas areias para dourar seu copo quase nu. Segundo Tom, que transformou em música tudo isso, esse rito hedonista, quase erótico, é uma herança de nossos antepassados tamoios, que nos ensinaram a curtir a água, o corpo, a música e a dança.
O sol já estava sendo rendido no seu plantão diário, e os banhistas noturnos começavam a estender suas cangas na areia para o mais novo modismo deste verão: o banho de lua. Foi quando chegou Cazuza para fazer parte do show. Antes de dar um mergulho, cantou: “Vago na lua deserta das pedras do Arpoador”.
Nunca me senti tão tamoio quanto nesse fim de tarde, início de noite nas pedras mágicas do Arpoador."

1 de Março

Hoje a Universidade de Coimbra está de parabéns. Celebra 723 anos de história. A cidade do Rio de Janeiro também. 448 anos. 1 de Março. Que feliz coincidência. Muitos parabéns às duas!!!