quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Domingo de Carnaval

Sabem onde estarei no dia 10 de Fevereiro à noite?
Uma pista: será domingo de Carnaval. No Rio de Janeiro, certo, por nada deste mundo sairia desta cidade no meu primeiro carnaval! Estarei num lugar que tantas vezes vi na televisão. Imaginem lá. Então? Sim, isso mesmo. Esse lugar que tantos de nós vimos pela televisão nesta altura do ano, cheio de cor e magia. Sim... No sambódromo!!!! Assistindo, nada mais nada menos, entre outros, à Portela e ao Salgueiro!!!!
Com o Carnaval já nas ruas, os blocos e as escolas de samba são um dos principais temas de conversa. Já entendi que, juntamente com os clubes de futebol, cada um aqui tem a sua escola de samba preferida, que defende com unhas e dentes. Eu confesso que, até há poucas semanas atrás, não tinha bem definida a minha escola. Mas depois de ir a Madureira, de ter vivido um domingo tão especial com portelenses, de escutar o samba-enredo deste ano e achar que é um dos melhores, de dar por mim durante a semana a traulitar "abre a roda, chegou Madureira..." , de ter visto e de me ter emocionado com o documentário sobre a Velha Guarda... enfim, não tenho escolha. Declaro-me portelense! E sim, é verdade, estarei no Sambódromo cantando e apoiando a minha escola!!!! :)

PS: Um pormenor importante: benvindos sejam os bilhetes populares (10 reais!!!) que foram colocados à venda ontem por telefone e desapareceram em 40 minutos e obrigada à minha amiga Marta que conseguiu comprar para mim! :) Lá estaremos!!!!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Mais música!

Fui admitida na Escola Portátil de Música! A partir de Março, as manhãs de sábado serão de aulas de pandeiro, apreciação musical, roda de choro e bandão! 
Próximos passos até o início das aulas: comprar um pandeiro e ouvir muito Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Zequinha de Abreu, Waldir Azevedo, Jacob do Bandolim...


Criada por músicos de choro em 2000 a partir da necessidade de passar adiante seus conhecimentos sobre o gênero, a Escola Portátil de Música vem, desde então, protagonizando uma história de crescimento e sucesso. O que começou com cerca de cinquenta alunos na Sala Funarte passou para perto de cem na UFRJ, em seguida o número de interessados mais que triplicou no casarão da Glória, e hoje em dia, no campus da Uni-Rio na Urca, são 34 professores e cerca de 1.000 alunos de flauta, clarinete, saxofone, trompete, trombone, contrabaixo, violão, cavaquinho, bandolim, pandeiro, percussão, piano, acordeom e canto - sem falar das aulas de apreciação musical, teoria musical, harmonia,. prática de conjunto etc. A formação musical oferecida pela Escola Portátil de Música é completa (teórica e prática), dando ao aluno formado a possibilidade de trabalhar dentro de qualquer estilo musical, não apenas do choro. Por isso tantos candidatos buscam se matricular a cada ano, atraídos pela proposta inédita de promover a educação musical por meio da linguagem do choro. O objetivo da EPM é dar ao aluno fundamentos educacionais, profissionais, sociais e emocionais, para que ele possa trilhar uma carreira de sucesso e uma vida produtiva como artista e como cidadão.
E não somente os alunos são atraídos pelos sons que vêm da Escola Portátil. Uma legião cada vez maior de fãs, admiradores e entusiastas vem se beneficiando dos efeitos positivos disseminados a partir da EPM. O ensaio aberto semanal do Bandão - provavelmente o maior regional do mundo, que reúne todos os alunos da escola - já virou, graças ao boca-a-boca, uma mistura entre programa carioca de sábado e atração turística informal. Ali, aos pés do Morro da Urca, curiosos e amantes da boa música comparecem toda semana para ouvir os arranjos especialmente feitos para o grupo, seja de clássicos da música brasileira, seja de composições inéditas.

O choro, uma das mais antigas músicas populares urbanas em atividade, com cerca de 150 anos de existência, foi a grande escola dos mais importantes músicos brasileiros, como Anacleto de Medeiros, Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Sivuca, Hermeto Paschoal, Tom Jobim, Altamiro Carrilho, Baden Powell, Raphael Rabello, entre tantos outros. Surgiu em meados do século XIX no Rio de Janeiro, a partir de influências diversas que confluíam para a então capital do Brasil, e rapidamente se espalhou por todo o país. Durante o século XX, o choro conheceu um notável desenvolvimento, tanto em termos de composição, interpretação e registro quanto em alcance, tornando-se sem dúvida uma música nacional. Matéria-prima de compositores que estruturaram a música brasileira, inclusive a de concerto, como Villa-Lobos, Radamés Gnattali e Guerra-Peixe, o choro contribuiu para fazer a nossa música respeitada em todo o mundo. A partir dos anos 60, entretanto, sem espaço nas rádios, TVs e demais veículos de comunicação de massa, o gênero passou a ser menos divulgado, e frequentemente rotulado com uma "música do passado".

É esse o panorama que a EPM e o Instituto Casa do Choro vêm revertendo com sucesso, por entender que o choro, enquanto uma das maiores riquezas culturais do Brasil, deve ser continuamente explorado, pesquisado e conhecido, para gerar cada vez mais frutos. Graças ao alto nível do seu corpo docente e à sua metodologia de ensino, que privilegia a prática, a composição e o estudo histórico da música carioca, a EPM vem colocando o choro em posição de destaque no cenário do século XXI, incentivando jovens compositores que, por seu estudo do repertório dos mestres dos séculos passados, colaboram para o alargamento do repertório contemporâneo de forma fundamentada, com base em referências sólidas.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Cine Babilônia

Desde que eu e a Natália nos tornamos sócias do Clube de Vídeo do Leme, ficaram inauguradas as noites de cinema brasileiro na Babilônia. A temática preferida são as favelas, como não poderia deixar de ser, e é muito interessante ver os filmes e reconhecer lugares, hábitos e até pessoas! Somos vizinhas de atores e figurantes! É tão surreal!
Na semana passada vimos três, embora tenhamos alugado cinco por 16 reais. Os dias sempre intensos e preenchidos não chegaram para tantos minutos de cinema, mais os extra e os making off
Mas a saga continua...
- Era uma vez: Romeu e Julieta à brasileira, tem cenas bonitas no morro do Cantagalo, mas outras demasiado exageradas e pouco credíveis; 
- 5x Favela, agora por nós mesmos: 5 filmes de 20 minutos feitos por jovens moradores de favelas que aprenderam em workshops e contaram histórias passadas nas favelas em que vivem, muito bom!
- O mistério do Samba: documentário em Madureira, contando a história da Velha Guarda da Portela, adorei!

Parada de Lucas

Este fim de semana regressei a Parada de Lucas. Caminhar nas ruelas, rever caras conhecidas, armas, rotinas, regras, e ser surpreendida com o abraço forte das crianças que ia encontrando... fez-me estremecer, entender que nunca cheguei realmente a sair de lá.
Sinto saudades de todos e de todas, incluso dos pequenos diabinhos que tornavam algumas aulas bem difíceis. Os seus sorrisos e aquele brilho especial nos olhos deixam-me sem jeito, com o coração apertadinho e as lágrimas no canto do olho. Também me deixa assim escutar a avó da Bea falar carinhosamente da Claire e das saudades que sente dela (e ver-me refletida nisso), escutar a Bea falar do quanto sofre por só estarmos 3 meses e depois irmos embora, do turbilhão de emoções que sente e com o qual não sabe lidar, conversar com um senhor da padaria que não me deixa ir embora, olhando para mim admirado e bombardeando-me com perguntas tipo "lá em Portugal não há negros, pois não?, ou "eu tenho o sonho de viver em Portugal, acha que eu conseguiria arranjar um trabalho por lá?"...
Fui com a Natália e o Marcos, que tinham muita curiosidade em conhecer Lucas. Fizemos o tour habitual pelas ruas até Vigário Geral, visitamos o AfroReggae (outra ong), almoçamos os pratos de sempre no Luisinho com a Bea e o Joabson, visitamos algumas crianças, fizemos até a manicura por 5 reais numa garagem.
Ao fim da tarde fui com a Bea e o Joabson, e mais outro pessoal, em vans (carrinhas de transporte) para Nova Iguaçu, outro município no norte do Rio, a cerca de 20 minutos de Lucas. Era a festa de 15 anos da Rafaella, outra ex-aluna. Lembro-me de ouvir falar deste dia já em Maio do ano passado, quando nas aulas a Rafaella descrevia os pormenores do seu vestido, dos convites, das músicas que ia dançar. É interessante a forma como celebram aqui o 15º aniversário, que quase se parece a um casamento.
A festa foi numa casa pequena, de tipo colonial, com um espaço ao ar livre agradável caso não estivesse ao lado de um chiqueiro de porcos. Nas duas salas pequenas tinha um Dj passando funk, pagode e hip hop, com refletores de luz tipo discoteca, e ao lado da piscina estavam as mesas onde as pessoas se sentavam e conversavam. Num bar faziam-se cocktails de fruta com e sem álcool e os empregados iam passando com mini salgadinhos nas bandejas. Conversamos, dançamos, rimos. Houve coreografia das garotas, mas faltou o baile com o príncipe, houve fogos de artifício e  bolo de dois andares. O vestido curto, aos folhos e rosa choque, desfilava pela festa feliz e radiante. Todos estavam felizes, afinal tinha chegado o dia mais esperado dos últimos tempos.
A festa acabou, mas enquanto esperávamos que a van levasse a Lucas os primeiros convidados, rapidamente um jovem começou a tocar batuque num balde e a roda de samba começou. E durou toda a viagem até casa. Terminei a noite no sofá da casa da avó da Bea, com a Bea falando como nunca, animada e inspirada, sem sono e muita energia...
No domingo amanhecemos cedo, com poucas horas dormidas, mas continuei conversando com a Bea e a família, comprei abacaxi e mangas na banca debaixo da ponte, onde sempre comprava, fiquei tempos intermináveis na padaria, comendo uma broinha de milho com queijo e um suco, e esclarecendo que sim, que em Portugal também há negros... mas arranjar emprego agora por lá não está nada fácil...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Palavras sábias

"Cada día se partía en mil pedazos. Un día no constaba de veinticuatro horas sino de 86.400 segundos, y éstos no se sucedían en orden –no formaban palabras y frases como hacen las letras– y, en consecuencia, no tenía tiempo de hacer nada. Mis días se componían de impulsos que nunca devenían actos. Diez horas no bastaban para hacer nada porque en realidad no eran diez horas, eran solamente miles de millones de trocitos de tiempo, cada uno demasiado pequeño para hacer algo con él".

“Las personas todavía sienten la necesidad de ir de un sitio a otro. Y suelen sentirse decepcionadas al llegar. Pero hay ocasiones en las que todas nuestras expectativas se cumplen. Y es un momento maravilloso: la certeza de que estamos donde tenemos que estar. De algún modo es como, por fin, estar en casa, pero muy lejos de casa”.

Geoff Dyer, no livro Yoga para los que pasan del yoga

domingo, 13 de janeiro de 2013

Domingo em Madureira


Abre a roda, chegou Madureira
A poeira já vai levantar
O batuque ginga ioiô
Ginga iaiá 
E lá vou eu cantando com a minha viola
O amor tem seus mistérios
Por onde me deixo levar
Laiá
Nossa história começa por lá
No engenho da fazenda
Dos cantos de “canaviá”

Bate o sino da capela
Ôi… que é dia de santo, sinhá

Tem mironga de jongueiro
O tambor me chamou pra dançar

Tempo rodou na roda do trem e veio
A inspiração do partideiro
Que versou no Mercadão
Foi nesse chão
Que a estrela brilhou no tablado
O “Madura” pisou no gramado

O malandro charmoso dançou
No pagode com outro gingado
Quando o bloco chegou
Agitou o suingue do black
E a nega baiana girou

Cai na folia, sem grilo, meu bem vem na fé
Na ilusão da fantasia
Vai como pode quem quer

Surgiu a serrinha imperial
Em outros caminhos para o mesmo ritual
Portela, meu orgulho suburbano
Traz os poetas soberanos nesse trem para cantar
Que Madureira é muito mais do que um lugar
É a capital de um sonho que me faz sambar

Abre a roda, chegou Madureira
A poeira já vai levantar
O batuque ginga ioiô
 

Madureira. A primeira vez que ouvi falar deste subúrbio carioca foi na voz de Arlindo Cruz , cantando O meu lugar/ É sorriso é paz e prazer/ O seu nome é doce dizer/ Madureiraaa, lá lá laiá, Madureiraaa, lá lá laiáando. Hoje peguei o ônibus decidida a conhecer O meu lugar de Arlindo. Cheguei na hora em que o Mercadão já estava fechando as portas, mas deu ainda para comprar um par de incensos e aguçar a vontade de regressar para vasculhar as máscaras e perucas para o Carnaval que já está aquecendo com os ensaios de Blocos de Rua e Escolas de Samba. Para me perder pelas lojas de tudo para o Candomblé. Grande edifício de dois andares, repleto de lojas que vendem brinquedos, plásticos, guloseimas, galinhas, frutos secos, roupa, enfim, um pouco de tudo, isso sim, a preços muito baratos. No atacado e no varejo.
Do Mercadão fui para o Parque de Madureira, inaugurado no ano passado. Em frente à fábrica de biscoitos Piraqué, com um grande morro ao fundo, e prédios em volta, este parque tem feito muito sucesso numa zona norte esquecida. Teatro, pistas de skate, bicicletas para alugar, campos de basquete. Pais e mães passeando com seus filhos neste domingo de sol tímido, mas quente.
Oi, desculpe! O Parque de Madureira é por aqui? Sim, sempre em frentchi  e tem qui passar pró outro lado pela passarela. Valeu, brigada. Você veio conhecer o Parque? Sim, e depois quero ir à feira das Yabás! Li que fazem esta feira cada segundo domingo do mês, né? Sério, eu também vou para lá mais tardji com uma amiga! Você veio sozinha? Sim, porquê? É tranquilo, né? É... mas tem que tomar cuidado a quem pede informações... Eu sei, por isso perguntei a você... Você está vivendo aqui no Rio? Sim, vivo na Babilônia, lá no Leme... Ah! Sei! Conheço bem, trabalho na UPP Social... Ah, sério? Por acaso não conhece a Raiza, que também trabalha no ISER? Raíza! Claro, minha grande amiga! Trabalhamos uma ao lado da outra! O Rio é mesmo pequeno...É mesmo... Ficámos conversando durante algum tempo, trocámos os celulares, combinamos encontrarmo-nos mais tarde na feira.
No caminho do Parque para o Largo do Portela, cruzei-me com um vendedor de pipocas que me deu algumas indicações. Ali na segunda rua à esquerda, depois à direita, vai em frente... Americana? Ah, com esse sotaque está muito americanizada... Apesar de eu ser assim escurinho, meu falecido pai era português. Casou com minha mãe, que é negra. Os portugueses gostam muito de escurinhas, né mesmo? Meu pai era lá di... Gaias. Você conheci? Eu já lá fui duas vezes. Ele era de Gaias de baixo. Porque tem Gaias de cima e de baixo, né? Ele era de baixo.
Entre virar à esquerda numa rua e virar à direita noutra, que a dar indicações geralmente os brasileiros não são muito bons, cruzei-me com a Paula. Senhora de olhos brilhantes, sorriso fácil e que se ofereceu logo a ajudar-me. Você veio aqui sozinha? Você é muito linda. Sabe uma coisa? Fica difícil explicar como ir. Eu só tenho que ir ali ao mercado fazer a compra para o almoço e depois eu levo você lá na feira. Você vai comigo. Pode ser? Você confia em mim? De pequena viveu em vários bairros, mas já vive em Madureira há mais de 30 anos. Ou melhor, em Oswaldo Cruz. São bairros tão próximos, que quase se confundem. Já dizia o Arlindo: O meu lugar/ Tem seus mitos e Seres de Luz/ É bem perto de Oswaldo Cruz/ Cascadura, Vaz Lobo e Irajá. Os pais vivem na Sá Ferreira, lá em Copacabana, mas ela não costuma ir muitas vezes à zona sul. Não sei explicar, mas fica longe e não tenho muita vontade de sair. Por isso admiro você, já viajou por tantos lugares. Fizemos a compra juntas, procurando sempre os preços mais baixos. Está tudo muito caro. Já viu o preço do café? Não vou levar, não. Fomos até casa dela, ou melhor, dos pais, um último andar que antes era um terraço e que, com algumas obras, se tornou uma casa espaçosa e luminosa. Obras que tiveram de ser suspensas porque ficou desempregada há umas semanas. Apresentou-me o filho de 10 anos, com quem vive, conversamos, trocamos os contatos, fizemos promessas de futuras visitas.
De sua casa, vi que tinha dado uma enorme volta desde o Parque de Madureira, que era ali bem ao lado. Cheguei até a pegar um ônibus, para depois ter que andar tudo para trás. Já disse que o forte dos brasileiros não é dar indicações. Não gosto de generalizar, por isso prefiro pensar que dei todas aquelas voltas para me poder cruzar pelo caminho com pessoas tão maravilhosas.
Cheguei à feira das yabás, que foi a desculpa que encontrei para passar o domingo em Madureira, já com a alma cheia por tudo o que tinha acontecido antes. É uma feira gastronômica, onde as tradicionais tias da região comandam as 16 barracas que oferecem comida para todos os gostos na Feira. Tia Surica é responsável pelo mocotó e o aipim com carne-seca. A iguaria peixe frito, molho de camarão e pirão é de responsabilidade de Tia Nira e Dona Neném, a mais velha das tias, com 87 anos, prepara a rabada com batata e angu. Comi um caldinho de feijão e misturei-me na multidão que sambava feliz ao som de uma roda de samba liderada por Marquinhos Oswaldo Cruz, debaixo de um sol abrasador.
Contagiante a alegria do povo brasileiro. Senhoras negras de pele enrugada, cabelo branco, descalças, olhos fechados, com o samba nos pés, nas pernas, nas ancas, no rosto. Senhores com ar de malandro, chapéu branco com fita preta, camisa azul da Portela, calça e sapatos brancos. Malandro!/ Só peço favor/ De que tenhas cuidado/ As coisas não andam/ Tão bem pro teu lado/ Assim você mata/ A Rosinha de dor. Todos conhecem as letras e cantam bem alto enquanto se movimentam naquele jogo de pés e ancas que ainda não consegui aprender. Jovens de todas as idades. Famílias. Grupos de amigos. Da nova e da velha Guarda.
Cai a noite e uma chuva fina. Quem é do mar não enjoa, não enjoa. Chuva fininha é garoa. É garoa, canta com voz firme e melodiosa Anna Costa, em homenagem a outro grande do samba, Martinho da Vila. Por favor liberem um pouco aí à frente que está chegando a Portela. Lá ao fundo, aparecem jovens bailarinos cantando e anunciando Abre a Roda/ Chegou Madureira/ A poeira já vai levantar/ E os batuques ginga ioiô ginga iaiá/ E os batuques ginga ioiô ginga iaiá. De seguida, uma multidão imensa, alinhada e afinada, vai cantando e dançando o samba-enredo deste ano.
Pensar que tantas vezes assisti pela televisão aos desfiles das escolas de samba no Sambódromo, ter estado num ensaio técnico da tantas vezes campeã Portela parece-me algo incrível. A bateria arrasa, as sambistas não se cansam, o azul e branco da Portela coloreiam as ruas deste bairro berço do samba.
Antes de pegar o ônibus de regresso a casa, relembro o grafitti que horas antes tinha observado num prédio de dois andares, mesmo ao lado do GRES da Velha Guarda: Saír de Madureira para quê...