sábado, 11 de maio de 2013

Janela da Favela

E assim que dei nome ao post anterior, lembrei-me desta música, dos Ponto de Equilíbrio:

Abre a janela!
Abre a janela da favela
Você vai ver a beleza que tem por dentro dela
Abre a janela moço!
Abre a janela da favela
Você vai ver a beleza que tem por dentro dela
Não quero dizer que lá não existe tristeza (tristeza)
Não quero dizer que lá não existe pobreza (pobreza)           
Porque favela sem miséria não é favela              
Porque favela sem miséria não é favela
Abre! Abre a janela da favela
Você vai ver a beleza que tem por dentro dela
Abre a janela moço!
Abre a janela da favela             
Você vai ver a beleza que tem por dentro dela
                      
Vai, no silêncio quando a noite cede a vez à madrugada
Pra romper um novo dia
Puxe a cortina da mesma lentamente
E você vai ver o samba em pessoa falando com a gente
Puxe a cortina da mesma lentamente                              
E você vai ver o samba em pessoa falando com a gente.
Abre a janela!
Abre a janela da favela
Você vai ver a beleza que tem por dentro dela
Abre a janela!
Abre a janela da favela
Você vai ver a beleza que tem por dentro dela.
Você vai ver a beleza que tem por dentro dela.
Você vai ver a beleza que tem por dentro dela.
Você vai ver a beleza que tem por dentro dela.
         
Você vai ver a beleza que tem !
 
 

Janela

Uma pipa voando, alta, desperta a minha atenção. Vermelha e branca, com a cauda de tirinhas de cor indecifrável, dá voltas e mais voltas, cambalhotas, vai para a esquerda, para a direita, desce, sobe cada vez mais alto, volta a descer a pique, fica presa na esquina de uma casa em construção, parece que chegou o seu fim, mas logo o vento e a habilidade de quem a conduz liberta-a e retoma a velocidade, rasgando o céu de fim de tarde. No horizonte, vários cargueiros azuis e vermelhos pousados sobre o Oceano que, a esta hora, vai mudando de tonalidade à medida que o sol desaparece. Alguns veleiros e lanchas passaram velozes há uns instantes atrás. As ondas rebentam e fazem realçar a espuma branca, lá em baixo, na areia, onde se percebem silhuetas minúsculas caminhando. Três palmeiras e um pedacinho bem pequeno, quase simbólico, das ondas brancas e pretas do calçadão. Do lado esquerdo, o morro do Leme, com a bandeira nacional em cima do Forte. Lá bem longe, o perfil da Pedra do Elefante (que já tive o prazer de subir), em Niterói. Um verde exuberante da Mata Atlântica quebrado pelo laranja das casas de tijolos de Chapéu-Mangueira. Em frente, os prédios brancos do asfalto, altos, mas não o suficiente para impedir que contemple toda a imensidão do mar. De algo me tem de servir 10 minutos de caminhada íngreme morro acima. Só o Hotel Windsor e outro prédio residencial, um pouco mais à direita, são incorretos nesse sentido. Mesmo assim, consigo ver todo o Forte de Copacabana, que tem já as suas luzes amarelas acesas. Uma brisa fresca acaricia-me a pele morena e relembra-me que estamos no Outono. Outono... essa estação que, na Europa, começa no fim de Setembro e veste as árvores de cores vermelhas, amareladas, alaranjadas, para depois as despir, pouco a pouco, deixando no chão um manto de folhas estaladiças que, sorrio ao lembrar, adorava pisar. Mais casas, mas sem tantos tijolos laranja à vista, rebocadas com cimento, cinzentas. Uma está até pintada de branco, outra de verde-água. Os tetos são quase todos de alumínio, ondulados.  Imensas caixas de água azuis por cima das lajes. E mais uma lancha aparece no mar, deixando um rasto branco por detrás. Um veleiro vai ao seu encontro, a vela branca, pequena, bem lá ao fundo. Os cargueiros continuam pousados no Oceano, agora já com as luzes acesas. Parecem mais, até.
Levanto-me para fechar a janela, essa que me oferece todos os dias o quadro que quis descrever. Esse quadro valioso, onde cabe o mar, a mata, a favela, o asfalto, o nascer do sol, a lua, os vizinhos. E reparo que a pipa vermelha e branca, com a cauda de tirinhas de cor indecifrável, ficou presa no topo da árvore de em frente.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Lar, doce lar

Algo me diz que o dia 20 de Maio será um dia muito, muito especial. O Rio de Janeiro passará a ser, por fim, e definitivamente, o meu lar.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Outra vez

Mais umas despedidas. Outra vez aquela sensação de dizer adeus a alguém com quem queria ter partilhado muito mais momentos.
Conheci a Isabel há poucos meses atrás, casualmente no fim do show do Seu Jorge na praia do Leme. E logo senti que teria muito que conversar com aquela espanhola de olhos verdes, púpilas dilatadas, cabelos pretos, gestos expressivos e sentido de humor refinado.
Gosto sempre de recordar quando, onde e como conheci os amigos. Adoro pensar como o destino, ou o Universo, como diz uma colega de trabalho, conspirou e se esforçou para nos fazer encontrar. Ela agora parte para Zaragoza, e depois Madrid, para realizar o seu sonho de estudar teatro. É bem duro, e desgastante, estar sempre a conhecer pessoas e a despedir-me delas. Porém, sinto-me feliz por a ter conhecido, e mais tranquila por saber que estará na cidade à qual vou querer sempre regressar.

Nomes de favela


O galo já não canta mais no Cantagalo
A água já não corre mais na Cachoeirinha
Menino não pega mais manga na Mangueira
E agora que cidade grande é a Rocinha!

Ninguém faz mais jura de amor no Juramento
Ninguém vai-se embora do Morro do Adeus
Prazer se acabou lá no Morro dos Prazeres
E a vida é um inferno na Cidade de Deus

Não sou do tempo das armas
Por isso ainda prefiro
Ouvir um verso de samba
Do que escutar som de tiro

Pela poesia dos nomes de favela
A vida por lá já foi mais bela
Já foi bem melhor de se morar
Mas hoje essa mesma poesia pede ajuda
Ou lá na favela a vida muda
Ou todos os nomes vão mudar

Felizmente os nomes das favelas não tiveram de mudar e estamos vendo muitíssimas melhorias. Muitas mudanças, muitos avanços, muitas contradições também. Muito por fazer...

terça-feira, 7 de maio de 2013

Rita e Henrique

Quando me despedi de vocês na Babilônia, senti o quão importante foi ter-vos deste lado do Oceano durante uns dias. E o quão bom seria estarmos mais perto, poder contar convosco para um jantarzinho lá em casa, um passeio de bicicleta, uma corrida, quem sabe uma noite de crochê (sei que me entusiasmaria ao ver as coisas lindas que fazes, Rita!), uma trilha, um pic-nic, uma noite de filmes. Senti um vazio, uma saudade precipitada quando vos vi descer a Ladeira.
Convosco, e as nossas conversas no Rio e em Búzios, viajei até Madrid, ou Madrid viajou até cá, nem sei, e relembrei a vida de lá, os momentos que deixei, as pessoas, o Retiro, o Rastro, o Lolina, o Manzanares, a montanha, as terrazas, a plaza de Malasaña... Por outro lado, adorei partilhar e mostrar-vos um pouco da minha nova realidade, e as pessoas e os lugares que agora cabem nessa realidade.
Espero que o Rio de Janeiro seja um lugar onde pensem sempre voltar, pois - para além do Cristo Redentor - aqui têm os braços abertos de amigos que já estão cheios de saudades vossas. Até breve!

domingo, 5 de maio de 2013

Parabéns, avó!

90 anos recheados de vida... Não há nem palavras para descrever toda a emoção de ver como continuas tão jovem. Hoje passei o dia na praia, entre amigos, com o nosso mar (um pouco mais quente do que o mar de Apúlia nesses verões de antigamente). Em duas semanas, celebraremos todos juntos a alegria de 90 anos de saúde, muitas alegrias, algumas tristezas, e inúmeros momentos bem vividos. E, quem diria, na cidade maravilhosa. Não posso esperar... P-A-R-A-B-É-N-S!!!!

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Queima das Fitas 2013


Desde este lado do Oceano, e passados já tantos anos desde a primeira vez que tracei a capa negra de estudante, confesso que me sinto muito longe de Coimbra, da Queima das Fitas, dessa vida de estudante repleta de tradições e simbolismos.
Porém, inexplicavelmente, ontem quando faltavam 20 minutos para a minha aula de yoga, descobri que era quinta-feira, a primeira quinta-feira do mês de Maio... e que, feitas as contas do fuso horário, faltavam precisamente 20 minutos para a Serenata Monumental começar. De imediato, veio-me à memória a imagem daquela mancha negra, solene, que se estendia pelo largo da Sé Velha ao som do trinar das guitarras e da voz dos fadistas. Relembrei a velha cabra, que aparecia no horizonte no meio da rua estreita que descia desde a Alta. Relembrei as músicas, a emoção sentida, os belos e intensos - tão intensos - momentos vividos em cada Queima. Do primeiro ao último dia trajada, às vezes 24 sobre 24 horas acordada, de pandeireta para trás e para a frente, festival de tunas, sarau, baile de gala, garraiada na Figueira da Foz, de direta na praia, noites do parque, o cortejo, o chá dançante, noites e dias que não tinham fim, nem começo, e a perfeita noção que se viviam momentos únicos, intensos, irrepetíveis. E ainda bem que tinha essa noção, e que desfrutei intensa e incansavelmente de cada um desses momentos, com uma energia made in Queima, pois é mesmo verdade que eles não voltam mais...
No entanto, a saudade que sinto é boa, por relembrar o quanto feliz fui naquelas semanas em que Coimbra tinha mais encanto.