sábado, 11 de maio de 2013

Janela

Uma pipa voando, alta, desperta a minha atenção. Vermelha e branca, com a cauda de tirinhas de cor indecifrável, dá voltas e mais voltas, cambalhotas, vai para a esquerda, para a direita, desce, sobe cada vez mais alto, volta a descer a pique, fica presa na esquina de uma casa em construção, parece que chegou o seu fim, mas logo o vento e a habilidade de quem a conduz liberta-a e retoma a velocidade, rasgando o céu de fim de tarde. No horizonte, vários cargueiros azuis e vermelhos pousados sobre o Oceano que, a esta hora, vai mudando de tonalidade à medida que o sol desaparece. Alguns veleiros e lanchas passaram velozes há uns instantes atrás. As ondas rebentam e fazem realçar a espuma branca, lá em baixo, na areia, onde se percebem silhuetas minúsculas caminhando. Três palmeiras e um pedacinho bem pequeno, quase simbólico, das ondas brancas e pretas do calçadão. Do lado esquerdo, o morro do Leme, com a bandeira nacional em cima do Forte. Lá bem longe, o perfil da Pedra do Elefante (que já tive o prazer de subir), em Niterói. Um verde exuberante da Mata Atlântica quebrado pelo laranja das casas de tijolos de Chapéu-Mangueira. Em frente, os prédios brancos do asfalto, altos, mas não o suficiente para impedir que contemple toda a imensidão do mar. De algo me tem de servir 10 minutos de caminhada íngreme morro acima. Só o Hotel Windsor e outro prédio residencial, um pouco mais à direita, são incorretos nesse sentido. Mesmo assim, consigo ver todo o Forte de Copacabana, que tem já as suas luzes amarelas acesas. Uma brisa fresca acaricia-me a pele morena e relembra-me que estamos no Outono. Outono... essa estação que, na Europa, começa no fim de Setembro e veste as árvores de cores vermelhas, amareladas, alaranjadas, para depois as despir, pouco a pouco, deixando no chão um manto de folhas estaladiças que, sorrio ao lembrar, adorava pisar. Mais casas, mas sem tantos tijolos laranja à vista, rebocadas com cimento, cinzentas. Uma está até pintada de branco, outra de verde-água. Os tetos são quase todos de alumínio, ondulados.  Imensas caixas de água azuis por cima das lajes. E mais uma lancha aparece no mar, deixando um rasto branco por detrás. Um veleiro vai ao seu encontro, a vela branca, pequena, bem lá ao fundo. Os cargueiros continuam pousados no Oceano, agora já com as luzes acesas. Parecem mais, até.
Levanto-me para fechar a janela, essa que me oferece todos os dias o quadro que quis descrever. Esse quadro valioso, onde cabe o mar, a mata, a favela, o asfalto, o nascer do sol, a lua, os vizinhos. E reparo que a pipa vermelha e branca, com a cauda de tirinhas de cor indecifrável, ficou presa no topo da árvore de em frente.

Sem comentários:

Enviar um comentário