quinta-feira, 17 de maio de 2012

Outro dia

Eu sabia que hoje seria outro dia.
Mas nunca imaginei que pudesse ser tão diferente. Nunca imaginei que a conversa que tive ontem com os garotos no fim da aula, dizendo que estava muito chateada e triste com o comportamento deles, pudesse surtir tanto efeito. Chegaram calmos. Mudei a estrutura da sala, de U para a tão tradicional em filas (que detesto), e dei umas fichas de revisão da matéria dada.
Levaram tudo muito a sério. Pensavam que era um teste e surpreendiam-se quando dizia que podiam ver no caderno o que não sabiam. Ou até ajudar o companheiro do lado. Mas sempre no mínimo silêncio, dedinho no ar, esperando que eu os atendesse, sentados cada um no seu sítio.
Não podia acreditar. A Neuza também não. Depois da aula de ontem, conversámos durante mais de uma hora sobre os problemas e dificuldades desta turma, sobre as opções, estratégias... mas não nos lembrávamos de nada... a solução parecia impossível. E... nossa, se eu tivesse uma câmera para filmar a aula de ontem e a aula de hoje!!!!!!!
Não há fórmulas para lidar com os miúdos. Um dia penso que estou no caminho certo, outro dia vem e desmorona tudo (como ontem), e de seguida vem outro que faz acreditar que sim, é essa a linha de trabalho, está funcionando... e muitos outros virão para me fazer subir as paredes e repensar tudo outra vez.
É muito interessante, desgastante também, mas, enfim, recompensador. E enternecedor. Dois dos mais rebeldes que quase se matavam nos últimos dias ajudaram-se mutuamente a fazer um exercício, partilharam lápis de cor e ainda disseram, no fim da aula, agora até já somos amigos. Dei-lhes a todos os parabéns, tiveram direito a jogo na rua, brincámos, saímos todos felizes da aula.
Crianças, quem as entende?
Ou somos nós, adultos, que não nos fazemos entender?

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