domingo, 25 de agosto de 2013

Buenos Aires

Saí com um sorriso de orelha a orelha do 5º andar do número 383 da Calle Carlos Pellegrini. Fixei bem o endereço, pois em 5 dias tive de ir lá 3 vezes. Eram as 11 horas de uma manhã tremendamente gélida, 7 graus marcavam os termômetros e alguns menos o meu corpo, já desacostumado a temperaturas tão baixas. Olhei uma e outra vez a página 12 do passaporte e voltei a sorrir. Depois de uma longa espera, tanta burocracia e chatices sem fim, ter o visto de trabalho estampado no passaporte é mais do que motivo para sorrir.
Uns dias antes, à hora previamente marcada desde há umas semanas atrás, tinha ouvido da funcionária do Consulado: nuestro sistema no esta funcionando desde el miércoles pasado, así que no podemos emitir visas. Desde há uma semana que o sistema não funcionava e não havia previsão de quando voltaria a funcionar. Pero tengo vuelo el viernes! (…) Lo apuntaré, para que tenga prioridad, pero no le prometo nada porque ya le dije que estamos desde el miércoles sin poder hacer nada… Ufff. Nada é fácil, até ao último momento.
aFelizmente, o problema lá se solucionou, pude voltar um dia depois com toda a papelada, pagar $604 pesos no Banco e esperar hasta el viernes a partir de las 10 horas. 
Nos entretantos, perdi-me por Buenos Aires... pelas calles sempre agitadas com botas altas, casacos compridos e cachecóis vistosos passando de um lado para o outro, pelas avenidas tão largas que davam medo cruzar por não acreditar que chegaria a tempo ao outro lado, pelos verdes e lindíssimos bosques de Palermo, pela feira animada de Recoleta, pelo tranquilo Jardim Japonês, pelas imensas livrarias da Calle Corrientes repletas de páginas por desfolhar, pelas lojas de roupa e acessórios da Calle Florida e da Avenida Santa Fe, pelos Cafés, aconchegantes Cafés onde pedia té con medias lunas e me traziam de cortesia um copo de água com gás e umas deliciosas bolachinhas... e onde descansava as pernas de passeios quilométricos, me localizava no mapa, e, sobretudo, me aquecia. Já não me lembrava de andar toda encolhida, com as mãos cheias de frieiras, os lábios gretados, o nariz doendo, a boca deitando fumo! Já não me lembrava do quão cortante pode ser o vento, do quão doloroso pode ser caminhar com os dedos dos pés petrificados.... E do quão reconfortante pode ser entrar num Café, sentir o líquido quente descer pela garganta, aquecendo os dedos na chávena, aquecendo-me o corpo, a alma.
Buenos Aires fez-me lembrar Madrid. Já tinha tido essa impressão quando lá estivemos em 2010, mas agora, estando há 1 ano e 4 meses sem ir a Madrid, à Europa, foi incrível ver as semelhanças dos edifícios, das ruas, das pessoas. Caminhei por toda a cidade, aluguei uma bicicleta e fui até lugares mais afastados, ao Bairro Chinês, ao Mercado da Pulga, misturei-me com los porteños y las porteñas no seu dia-a-dia frenético, peguei o metrô, o ônibus, almocei o prato do dia, provei várias qualidades de alfajores, passeei sem destino, só com a curiosidade de descobrir um recanto novo. Desfrutei de cada fim de tarde numa paisagem diferente, na Flor de Recoleta, no Parque del Centenario, nos Bosques de Palermo, na praça de San Telmo, e acabei todas as noites nalgum Café, comendo um sanduíche com chá quente, observando os grupos de amigos que se reuniam depois do trabalho, escrevendo o percurso e as sensações do dia...
Foram uns dias intensos, muito bem aproveitados. Mas quando saí do 5º andar do número 383 da Calle Carlos Pellegrini, na sexta-feira antes de ir para o aeroporto, além de uma felicidade extrema, senti uma enorme ansiedade por chegar a casa. Chegar ao Inverno ameno e ao mar, esse azul intenso onde perco o olhar e me renovo todas as manhãs. Quando o piloto anunciou que chegaremos às 20 horas ao Rio de Janeiro, o céu estará limpo e a temperatura 27 graus, e quando – depois de ter entrado com o visto, legalmente - senti o bafo de ar húmido e quente tocar-me na pele, ainda seca e gretada do frio, senti-me realmente em casa. E que bom que casa seja o Rio de Janeiro.

1 comentário:

  1. A única vez que estive em Buenos Aires nao tive muito tempo para passear e descobrir a cidade, mas de uma coisa me vou lembrar para sempre: aquelas tantas árvores, grandes... imensas, e de só apetecer abraça-las!
    :)

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