segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Parada de Lucas

Este fim de semana regressei a Parada de Lucas. Caminhar nas ruelas, rever caras conhecidas, armas, rotinas, regras, e ser surpreendida com o abraço forte das crianças que ia encontrando... fez-me estremecer, entender que nunca cheguei realmente a sair de lá.
Sinto saudades de todos e de todas, incluso dos pequenos diabinhos que tornavam algumas aulas bem difíceis. Os seus sorrisos e aquele brilho especial nos olhos deixam-me sem jeito, com o coração apertadinho e as lágrimas no canto do olho. Também me deixa assim escutar a avó da Bea falar carinhosamente da Claire e das saudades que sente dela (e ver-me refletida nisso), escutar a Bea falar do quanto sofre por só estarmos 3 meses e depois irmos embora, do turbilhão de emoções que sente e com o qual não sabe lidar, conversar com um senhor da padaria que não me deixa ir embora, olhando para mim admirado e bombardeando-me com perguntas tipo "lá em Portugal não há negros, pois não?, ou "eu tenho o sonho de viver em Portugal, acha que eu conseguiria arranjar um trabalho por lá?"...
Fui com a Natália e o Marcos, que tinham muita curiosidade em conhecer Lucas. Fizemos o tour habitual pelas ruas até Vigário Geral, visitamos o AfroReggae (outra ong), almoçamos os pratos de sempre no Luisinho com a Bea e o Joabson, visitamos algumas crianças, fizemos até a manicura por 5 reais numa garagem.
Ao fim da tarde fui com a Bea e o Joabson, e mais outro pessoal, em vans (carrinhas de transporte) para Nova Iguaçu, outro município no norte do Rio, a cerca de 20 minutos de Lucas. Era a festa de 15 anos da Rafaella, outra ex-aluna. Lembro-me de ouvir falar deste dia já em Maio do ano passado, quando nas aulas a Rafaella descrevia os pormenores do seu vestido, dos convites, das músicas que ia dançar. É interessante a forma como celebram aqui o 15º aniversário, que quase se parece a um casamento.
A festa foi numa casa pequena, de tipo colonial, com um espaço ao ar livre agradável caso não estivesse ao lado de um chiqueiro de porcos. Nas duas salas pequenas tinha um Dj passando funk, pagode e hip hop, com refletores de luz tipo discoteca, e ao lado da piscina estavam as mesas onde as pessoas se sentavam e conversavam. Num bar faziam-se cocktails de fruta com e sem álcool e os empregados iam passando com mini salgadinhos nas bandejas. Conversamos, dançamos, rimos. Houve coreografia das garotas, mas faltou o baile com o príncipe, houve fogos de artifício e  bolo de dois andares. O vestido curto, aos folhos e rosa choque, desfilava pela festa feliz e radiante. Todos estavam felizes, afinal tinha chegado o dia mais esperado dos últimos tempos.
A festa acabou, mas enquanto esperávamos que a van levasse a Lucas os primeiros convidados, rapidamente um jovem começou a tocar batuque num balde e a roda de samba começou. E durou toda a viagem até casa. Terminei a noite no sofá da casa da avó da Bea, com a Bea falando como nunca, animada e inspirada, sem sono e muita energia...
No domingo amanhecemos cedo, com poucas horas dormidas, mas continuei conversando com a Bea e a família, comprei abacaxi e mangas na banca debaixo da ponte, onde sempre comprava, fiquei tempos intermináveis na padaria, comendo uma broinha de milho com queijo e um suco, e esclarecendo que sim, que em Portugal também há negros... mas arranjar emprego agora por lá não está nada fácil...

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