sábado, 20 de outubro de 2012

Dias com mais de 24 horas

Ainda não tinha encontrado o tempo necessário para escrever sobre o fim de semana passado. Foram dias muito intensos...
Tudo começou na quinta-feira à noite, quando toda contente saí do trabalho a horas ditas normais. Encontrei-me na ponta do Leme para tomar uma (cerveja/água de coco) com a Elisa, que estava em modo despedida. Mar bravo, rajadas fortes de vento e chuva como convidados especiais do feriadão. Como não poderia deixar de ser, estes só se foram embora no domingo à tarde, para relembrar que no dia seguinte ia estar sol e teríamos que trabalhar. Em 6 meses ainda não tive nenhuma ponte sem chuva, e isso que até houve muitas!
Subimos o morro em moto-taxi, conversámos com a Natália e o José em casa, e já tarde saímos impermeabilizados para Santa Teresa. Jantamos uma moqueca de peixe no Bar do Mineiro e continuamos a noite pelas ruas da Lapa, entre o Bar da Cachaça e as Escadas Selarón, fugindo à chuva por ali, parando aqui que esta música é boa, indo acolá que a batucada nos chama. Às 4h30 da manhã decidimos ir caminhando para casa, e no caminho contemplámos o amanhecer. Não foi propriamente o nascer do sol... mas o dia nasceu sereno, embora nublado. Chegamos ao Leme eram 7 horas da manhã e ainda me pergunto como pudemos caminhar 2 horas e meia em plena madrugada, sem dormir e sem necessidade nenhuma disso. O modo despedida da Elisa.
Na verdade, para essa noite tínhamos programado subir à Pedra da Gávea, mas como o tempo nos pregou a habitual partida, caminhamos pelas ruas da Glória, Catete, Largo do Machado e Botafogo... 
Comemos pãezinhos quentes com queijo, broinhas de côco e suco de mamão na areia húmida da praia. Subimos o morro a meio da manhã, supostamente para descansar, mas eu não consegui fechar olho... e a Elisa também não. Bate-papo na laje, admirando a vista, seguido de almoço no Bar do David, em Chapéu Mangueira, a favela ao lado da Babilônia. A especialidade, que premiou este famoso boteco: feijoada de frutos do mar.
À tarde fomos para Parada de Lucas. Eu, Elisa, Claire, Jose e Inês, a nova vizinha vinda de Madrid. Tivémos reunião de organização da festa com a Neuza, alguns voluntários e os alunos mais velhos de espanhol, jantámos frango à passarinho na esplanada do Sr. Francisco, esquivando-nos às gotas de chuva que caíam aqui e ali, dançámos no Cá ti espero sambas e pagodes que íamos colocando a tocar na caixa de música, e terminámos no Baile Funk das crianças. Porque dia 12 é o dia delas aqui no Brasil.
Isso foi o mais surreal da noite. Organizado pelos bandidos no brizolão de Vigário Geral, é muito difícil descrever o ambiente e os sentimentos que nos invadiram ao observar o cenário do funk. Já passava da uma da manhã. Crianças de 6, 7, 8, 9... anos. Vestidinhos justos e curtos  em rostos de bebê, calças apertadas, ténis e t-shirts escuras. Escuridão, cheiro intenso a maconha, tchu tcha tcha tchu tcha em alto volume, foguetes, corpos minúsculos balançando-se como adultos, expressões de cara, gestos.
As letras das músicas... Duas da manhã. Três.
No sábado despertámos cansados e reflexivos. Ainda ensonados, tomámos juntos torradas com queijo e fiambre, café com leite, bolo de côco e bananas. E mãos à obra. Embrulhar os brindes, encher balões, decorar a sala, numerar os presentes, preparar as bebidas, fazer pipocas.
12:00 Início da festa de aniversário do CIACAC. Pela lista de presença, passaram mais de 100 crianças pelo espaço pequeno da Instituição. Jogo da estátua. Pinta caras. Trampolim. Rodadas de refrigerante. O palhaço Danilo. Apresentação musical dos leõezinhos. Pipocas. Penteados. Dança da maçã. Cachorro quente. Gargalhadas. 
No fim do dia, varremos os restos de papéis, guloseimas e confetis do chão, nos sentámos à volta da mesa a comer panquecas que a Neuza preparou e brindámos pelo CIACAC.
Foi óptimo regressar. Voltar a ser abraçada pelas crianças, a contagiar-me com a sua alegria e a sua simplicidade. Parte do meu coração ficará sempre com elas e sinto-me feliz por não estar tão longe de Parada de Lucas. Às vezes passam muitas semanas sem eu ir lá, mas vou sabendo de todas as novidades e de alguma forma sinto que estou perto. À distância de dois ônibus. Ou de metrô e trem.
Nessa noite ainda dei um pulinho fugaz na Lapa, resgatando energias de reserva, e no domingo passei todo o dia em casa fazendo bricolage e conversando com os vizinhos.
O grupinho da Babilônia começa a ficar cada vez mais coeso e é muito bom o sentimento de comunidade e solidariedade existente entre todos nós!
Hoje já é outra vez sexta-feira, a semana passou a correr... e comecei bem o fim-de-semana: serão de queijos e vinho português na casa da Marta, acompanhado de muita conversa. A chuva voltou, depois de uma semana quente e ensolarada, mas não impedirá que se façam bastantes programas.

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