Prezada (...),
Tive conhecimento do seu email
através do Observatório das Favelas e tomo a liberdade de lhe escrever para
pedir assessoramento. Sou graduada em Direito pela Universidade de Coimbra
(Portugal) e (...)
Actualmente trabalho como educadora de rua num projeto desenvolvido pela
Associação La Rueca em Madrid, atendendo a jovens imigrantes em risco de
exclusão social. (...) Em 2004/2005 trabalhei também como educadora
social numa ONG alemã, em Stuttgart, e colaborei durante muitos anos (...)
Estou muito interessada em ampliar a minha experiência profissional a nível internacional e tenho como objetivo ir para o Brasil muito brevemente. Gostaria muito de trabalhar no âmbito das favelas e, como tal, gostaria de lhe pedir assessoramento em relação a possíveis contatos, informação sobre ongs, projetos existentes, etc.
Muito obrigado por antecipação.
Atenciosamente,
(...)
Estou muito interessada em ampliar a minha experiência profissional a nível internacional e tenho como objetivo ir para o Brasil muito brevemente. Gostaria muito de trabalhar no âmbito das favelas e, como tal, gostaria de lhe pedir assessoramento em relação a possíveis contatos, informação sobre ongs, projetos existentes, etc.
Muito obrigado por antecipação.
Atenciosamente,
(...)
Há precisamente um ano atrás, em meados de Setembro, comecei a enviar
dezenas de emails a várias pessoas que fui encontrando através da árdua
pesquisa na internet de ongs que realizassem de alguma forma intervenção social
nas favelas do Rio de Janeiro. O meu objetivo era um: vir para cá trabalhar
nas favelas. Tinha-me apaixonado por esta cidade em 2010, quando iniciamos aqui
a nossa lua de mel e em quatro dias chuvosos passeamos pelo calçadão, pela
lagoa Rodrigo de Freitas, Jardim Botânico, Urca, Rocinha. Foi aí que desejei
tremendamente trabalhar numa favela.
A busca foi intensa, a luta tremenda, as
respostas aos emails foram um sinal. Tive vários sinais. Ao contrário do que
estava acontecendo em Espanha, que ninguém me respondia aos emails relacionados
com pedidos de trabalho, desde longe me chegaram várias respostas. Uma delas
fez-me viajar a Lisboa e conhecer um dos sociólogos mais prestigiados do Rio,
passar uma tarde na sala 5-11 do Instituto de Ciências Sociais ouvindo histórias
sobre as milícias, os bailes funk, a vida nas favelas, as transformações da
cidade partida... enfim, conhecimento puro. Saí com o Vida sob Cerco, Violência e Rotina nas favelas do Rio de Janeiro debaixo do braço. Assinado: À Ana Olívia, esperando que consiga aquilo a
que se propõe, e que esta coletânea possa ajudar. Lisboa, out 2011.
E consegui. Lembro-me disso todos os dias e agradeço tremendamente estar
vivendo esta realidade que já foi um sonho. Por isso momentos como os de hoje
são tão especiais. Fui à apresentação do livro O Novo Carioca, cujos autores receberam em seu dia, há precisamente
um ano atrás, um email meu a pedir assessoramento. Cruzo-me diariamente com
pessoas diretamente relacionadas com a luta pelo respeito dos direitos humanos
nas favelas, com a intervenção social, a mediação de conflitos, a implementação
de políticas públicas. Estou entre elas. Trabalho com elas. Vivo no Rio. Vivo
numa favela. E tudo tem sentido, um ano depois.
PS: E daqui a 4 horas terei que acordar para ir trabalhar no Complexo do Alemão...
Sem comentários:
Enviar um comentário